“Desligaria o telefone e de nada adiantaria. Trocaria de endereço, roupa, perfume e gostos. Trocaria até de identidade. Tudo em vão, tentativas absurdamente inúteis de esquecer o número, o endereço, as roupas, perfumes e gostos do outro. Vira a vida de cabeça para baixo e o mapa do destino ainda parece deslocado. Solitário, amassado, despedaçado e riscado: alguém deixou a bagunça para depois. Foi você. Ou foi o outro? Foram os dois, a culpa é sempre de ambos. E não sabe se sonhou ou se foi real o reencontro, o passar na rua e meu-Deus-nós-trocamos-olhares-de-novo! Não sabe se viveu ou se sonhou. As histórias de amor são mancas e tortas, erradas e dramáticas: seguindo à risca do bom amor. “Olha, eu não quis dizer isso, era aquilo, mas eu não sei explicar, você pode voltar, mas não, não volte”, o texto decorado vira a piada de si mesmo. É o beijo roubado, o tapa apaixonado, o quero-não-quero-querendo, o que nunca se viveu e muito se quis, o que se viveu mais do que se quis, o amor errado, o amor atropelado, o amor louco, o amor perdido, o amor que não sabe o que faz.
O telefone volta a tocar.
Esquece tudo.
Troca o corpo e a alma, mas não troca o amor.”
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